domingo, 27 de março de 2011
Desordens d'alma
sábado, 3 de outubro de 2009
domingo, 27 de setembro de 2009
Domingos
Talvez hoje não seja o dia mais aguardado do ano... Não é sequer véspera de feriado, nem guarda a alegria do sábado... Meus domingos são tristes... Mas hoje vivo uma manhã dominical atípica.
Acordei cedo, tomei café com minha mãe, com quem também brinquei de conversar no quintal... Vesti uma roupa branca e me pus a embalar segredos em uma rede púrpura. Elevei um sorriso a Deus, pedindo para que me fizesse novo... Devorei-me!
Fiquei a imaginar quantos de nós temos vivido nossos dias em casa como em calabouços... Abri a janela do meu quarto e deixei que o som dos pardais, filhos de Nosso Senhor, inspirassem um canto novo na minha vontade de saltar... Dei pulos, explodi em sambas, desenhei casas de chão queimado e convidei a brisa para estender comigo algumas roupas no varal...
Como a existência me consome na inesgotável vontade de Ser!
Entre o númeno e o fenômeno, a opção pela harmonia... ou, simplesmente, por outonos d'alma...
Depois do almoço carinhosamente preparado e cultuado pelas mãos de uma mulher vivida, o sono dos, enfim, justos! E mais um rito se eleva... Clarice e Roberta Sá são eleitas para o despertar da tarde... Folia, amigos e a não-espera da segunda-feira...
Mais uma oração: assim seja ...
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
A solidão e o sono de Maria
No momento em que compartilhamos deste elo de comunicação – escritor e leitor – em uma cumplicidade devidamente possível, a própria idéia do sozinho se desfaz. Somos, nos limites desta crônica, parceiros íntimos. Não estamos sós, uma vez que buscamos algo juntos... Talvez o horizonte de um mar poético, talvez o mero desejo de nada fazer e ocupar nosso tempo mais uma vez com o nada. No entanto, creio que essa última pretensão não seja verdadeira ou, inclusive, coerente. O que importa para nós agora é tentarmos compreender as razões pelas quais a sociedade contemporânea sente ojeriza pela solidão.
Em se tratando da Filosofia, a solidão parece ser um tema bastante caro, uma vez que a própria atitude do sábio é tida na esfera do singular. Você deve conhecer ou pelo menos já viu alguma cópia, em algum momento de sua vida, da famosa obra de Rhodin: O Pensador. Trata-se de uma escultura belíssima, em que um homem nu se põe em uma atitude pensante. Por diversas vezes, já me questionei: por que ele não está acompanhado? Será que a companhia do outro anula minha sabedoria? Olhando para Platão, podemos perceber que não. Toda a filosofia platônica, pelo menos no que diz respeito às doutrinas escritas, dá-se em forma de diálogo. Dois seres humanos conversam e, a partir da já discutida maiêutica socrática, dão luz às idéias. E quantas idéias maravilhosas surgem a partir desse contato... Descobertas acerca do cotidiano, o amadurecimento de um casal, o teste dos hormônios, a união em busca de um fim determinado em vista de um bem comum, a simples troca de perguntas e respostas convencionais que, inevitavelmente, legitimam a nossa existência... A sabedoria não consegue ficar presa ao nosso egoísmo, à nossa matéria pensante...
No entanto, não podemos negar que a solidão, o estar só, se é que essa condição é possível, pode nos revelar as cadências dos nossos sentimentos tão intactos e, ao mesmo tempo, tão necessários para que nos compreendamos enquanto pessoas. É na solidão do monge que ele encontra a força para ser testemunho para os outros... É na solidão do bêbado que a reflexão e a constatação de suas verdades se tornam palpáveis... O que seria do bêbado se não fosse a solidão? O que seria da criança se não lhes dessem a oportunidade de estarem sozinhas e descobrirem por si mesmas tantas coisas maravilhosas?
Em uma das viagens de meu ócio, visitei uma cidade com a qual nem simpatizo muito, mas que me lançou em provocações filosóficas muito úteis. Quando fui a Recife no ano de 1999, vivendo as doçuras e travessuras de meus dezesseis anos, dei-me ao luxo de caminhar sozinho pelas praças daquela capital conhecida por sua violência (como também por sua alegria rítmica)... No fim da tarde, quando o sol já despontava e me lembrava que eu teria de voltar para o convento em que estava hospedado, atravessei uma viela próxima à praça e percebi que havia ali algumas prostitutas. Inchado do meu preconceito e com minha miséria pronta a oferecer, baixei os olhos e avancei no passo. Na minha frente, caminhava um homem de meia-idade, também de maneira apressada. Uma das prostitutas que exibiam seus corpos em minúsculos trapos lançou-lhe um “Psiu...”. Instantaneamente, como se já tivesse planejado a resposta, o senhor respondeu-lhe: “Não quero comer você... Eu estou com fome de comida!”. Minha miséria deixou escapar um sorriso, que logo se desfez quando aquela mulher de batom carmim respondeu: “Eu também...”. Parei no tempo, engoli minha mesquinhez e chorei junto a ela. Não pude desapressar os meus passos, mas, em segundos, tornei-me tão só quanto a mulher prostituída. Senti-me prostituto, vivendo de maneira tão agradável, hospedado em um casa religiosa com tantas maravilhas artísticas e repleta de comida. Imaginei a solidão daquela mulher a quem dei o nome de Maria. Como ela dormiu naquela noite?
A solidão pode ser, de fato, uma realidade perturbadora para a nossa alma. Não sabemos até que ponto ela é sadia e a partir de que instante ela nos destrói. Se eu pudesse dizer algo para Maria naquela viagem, diria: “Eu quero estar com você...”. Mas eu também poderia destruir a oportunidade fértil ou não que ela tem para estar consigo mesma. Eu não sou digno da solidão daquela senhora. Mas o que me incomoda é saber que, na maioria das vezes, não somos dignos de estarmos acompanhados. Não reconhecemos o outro, não vemos nele o quanto de nós existe e persiste...
O que fazer, então, quando a solidão chegar? Durma um bom sono... Se a insônia não quiser lhe fazer companhia!
terça-feira, 28 de outubro de 2008
A arte é para quem?
Um primeiro questionamento caberia muito bem para essa reflexão, como que em um estágio propedêutico para a construção dessa conversa: o que é arte? O que podemos conceber enquanto manifestação artística? Para muitos, o conceito de arte está totalmente ligado ao erudito, às mais inacessíveis produções humanas, consideradas, egoisticamente ou não, as mais belas. Para outros, em um distante extremo, arte é toda expressão do pensamento, livre da preocupação com padrões ou formas e sobre a qual nem mesmo a beleza precisa se fazer presente. Trabalhar com extremos é sempre um grande risco. Bom seria se o ser humano, em suas confusões de gente, conseguisse adotar o equilíbrio como meta existencial. Equilibrar-se é experimentar o mais natural que podemos ser. E isso me parece uma grande e inteligente saída para um mundo que assiste a radicalidades sempre tão absurdas... Mas voltemos ao nosso objeto de reflexão. Enquanto alguns podem se deixar embriagar pela prepotência de considerar como arte apenas o produto do erudito e incompreensível, o extremo dos ilimites também pode coincidir em funesta aporia. A anarquia do artista precisa valer muito mais para o outro do que para ele. E, mesmo anárquica, sua atitude deve ser responsável. Do contrário, teríamos, como temos hoje, estupendos “porra-loucas”, seja na arte, na literatura ou na política. Apenas fazem barulho, mas nada conseguem dizer. Não conseguiram convencer nem mesmo a si próprios. No entanto... sempre há quem os aplauda. É complicado falar de arte assim.