terça-feira, 28 de outubro de 2008

A arte é para quem?

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Em minhas aulas de Redação, sempre oriento os meus alunos a não começarem texto algum pelo título. Até porque ele precisa conter a essência daquilo que é escrito. Em uma frase ou apenas um vocábulo, é preciso revelar, de forma bastante sedutora, o que o texto intenciona comunicar. Mas, para essas palavras com as quais agora brinco, resolvi ser incoerente... Comecei esta crônica pelo título, porque dentro da alma do artista, após ler alguns escritos dos filósofos contemporâneos Theodor Adorno e Walter Benjamin, a pergunta em xeque me perturbava com ares de desafio.


Um primeiro questionamento caberia muito bem para essa reflexão, como que em um estágio propedêutico para a construção dessa conversa: o que é arte? O que podemos conceber enquanto manifestação artística? Para muitos, o conceito de arte está totalmente ligado ao erudito, às mais inacessíveis produções humanas, consideradas, egoisticamente ou não, as mais belas. Para outros, em um distante extremo, arte é toda expressão do pensamento, livre da preocupação com padrões ou formas e sobre a qual nem mesmo a beleza precisa se fazer presente. Trabalhar com extremos é sempre um grande risco. Bom seria se o ser humano, em suas confusões de gente, conseguisse adotar o equilíbrio como meta existencial. Equilibrar-se é experimentar o mais natural que podemos ser. E isso me parece uma grande e inteligente saída para um mundo que assiste a radicalidades sempre tão absurdas... Mas voltemos ao nosso objeto de reflexão. Enquanto alguns podem se deixar embriagar pela prepotência de considerar como arte apenas o produto do erudito e incompreensível, o extremo dos ilimites também pode coincidir em funesta aporia. A anarquia do artista precisa valer muito mais para o outro do que para ele. E, mesmo anárquica, sua atitude deve ser responsável. Do contrário, teríamos, como temos hoje, estupendos “porra-loucas”, seja na arte, na literatura ou na política. Apenas fazem barulho, mas nada conseguem dizer. Não conseguiram convencer nem mesmo a si próprios. No entanto... sempre há quem os aplauda. É complicado falar de arte assim.

A arte nos humaniza, torna-nos homens, de fato. Enlouquece-nos, de uma maneira muito feliz e peculiar, na possibilidade de expressarmos aquilo que somos. Minha grande paixão pelo teatro tem nessa oportunidade uma fundamentação coerentemente aceitável. Lembro-me de que eu parecia um bichinho amedrontado na primeira vez em que estive no palco. Minha primeira fala era: “Cala a boca, Bárbara!” E minha única fala era essa... Mas, ali, sob as luzes da ribalta, como diria o poeta, meu coração sentia os nervos do nariz. E tudo me parecia um texto intragável. Eras muitas as formas de ordenar o silêncio à Bárbara, mas a técnica de um iniciante não permitia alcançar os objetivos do diretor. Na estréia, quando, brilhantemente, minha voz tremeu e meus olhos lacrimejaram, encontrei a entonação e o olhar corretos para aquele homem severo que gritava com sua esposa. E havia muito de mim naquilo... Percebi, então, que a arte não era cópia da cópia, como pretendiam os filósofos antigos. Mas era, antes, o hábitat natural do ser, onde ele se encontra e se reconhece.

Em uma das apresentações que fiz com o texto “Mulheres de Chico”, espetáculo que me rendeu uma paixão desesperante por Buarque, percebi que a arte tinha uma recepção diferente para cada grupo de pessoas. Em duas sessões muito próximas e em escolas diferentes, uma particular e uma pública, senti duas reações que muito me valeram. Na primeira, para um grupo de alunos da rede privada de ensino, todos de classe média alta na capital do Estado, sentimos um certo descaso no olhar. A arte estava lá, os alunos prestavam atenção em um silêncio que incomodava, mas nós não passávamos da experiência superficial de cada personagem. Não erramos uma fala sequer, tudo aconteceu em seu tempo, mas nem tudo nos transformou. Logo em seguida, fomos apresentar a mesma obra para um grupo de educandos da rede pública. O nosso preconceito nos dizia que aquilo ali não daria muito certo... Eles não entenderiam a profundidade de um texto de Chico Buarque de Hollanda. Como nos enganamos... Fisicamente, eles imitaram o silêncio da outra escola. Mas pudemos perceber uma coisa fantástica: não estávamos sozinhos no palco... O olhar daquelas crianças sedentas de saber nos fez sair do preconceito, lavar a cara com nossas lágrimas e deixar a arte acontecer naqueles artistas dos olhos amendoados e marcados por tantas cenas de um cotidiano de exclusão... O aplauso foi merecido naquele dia. Aquela peça era dirigida a um público conhecedor das canções de Chico. Quando vimos aquelas crianças se emocionarem com o Guri, cuja melodia não reconheciam, rompemos o intrépido e insano medo dos artistas: o medo de não serem compreendidos. Olhamo-nos, refletimos um pouco sobre a experiência e, satisfeitos, pudemos notar que a arte é para o ser.


Não há pré-requisitos para viver a aura de uma obra artística. Mas é preciso ser gente para compreender que a cópia não é somente o retrato. Há muito mais do homem naquilo a que denominamos arte. E pra isso, é preciso conhecê-lo, experimentá-lo, vivê-lo, sair da esfera da cópia. Com a voz ociosa, não teremos sequer autoridade para dizer a verdade de um bárbaro “cale a boca”!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Marisa aos Montes


A música é, das artes, a que melhor me humaniza. Tenho toda uma vida com o teatro, a literatura e a poesia, mas nada se compara ao que notas em seu devido e nem sempre óbvio lugar conseguem fazer com minha pobre alma. É como alcançar uma luz, sentir-se iluminado, claro, límpido... Porque a música nos desmascara! E esse é o grande e o melhor risco que corremos quando nos aventuramos em seus deleites. Já viu como são felizes aqueles que nela vivem? Parece-me uma companhia perfeita, com seus efeitos e defeitos, com suas nuances e equilíbrios...
Nesta semana, a vida pôde me presentear com um show da linda Marisa... O que me parecia algo somente fora da rotina me surpreendeu com os resultados. Acredito piamente e tenho experimentado que a música provoca na alma certos êxtases, que nem o mais fino elemento químico pode imitar. Essas sensações são alcançadas quando, enquanto humanos, deixamos que as melodias físicas e planejadas coincidam com a harmonia do nosso cotidiano fácil ou não, com as diabruras e milagres da nossa essência... Marisa me fez isso! Arrancou de mim o meu humano, mas não o tomou para si... Deixou apenas que a sua voz denunciasse o que em mim ainda se corrompe. Desmascarou-me aquela agraciada! E fez-me chorar... No meio de um ginásio, na companhia de três amigos muito especiais e... com uma camisa roxa, o que me tornou mais ridículo ainda! Viva o ridículo! Viva a vergonha no dia em que me senti nu! E assim, a cor da roupa já não mais me incomodou. Estou, definitivamente, com a cota de êxtases musicais bem recheada. Dou conta de três anos sem precisar de mais uma dessas experiências, mas não quero me dar esse castigo. Nietzsche foi muito feliz quando disse que a vida sem música seria um erro... As palavras do louco, como foi e é lembrado pelos mais diversos “guardiões da razão”, soam ao nossos ouvidos como certezas que só são conhecidas quando provadas. Todas elas são assim. Aquele que diz viver sem música já morreu, se bem que as melodias não se interrompem com o fim de nossos suspiros. Elas eternizam nossa condição de ser.
Muitos de meus amigos me questionam o gosto que tenho pela voz do Chico. “Uma voz pouquinha e feia” é o que me dizem. “Tudo bem gostar dele em suas composições, mas... do seu cantar?” Tenho pedido a essas pessoas que cantem um pouco para mim. E que, por favor, parem na terceira nota. Realmente, não encontro na voz do Chico os esplendores e agrados de um Oswaldo Montenegro ou de um Andrea Boccelli. Mas desafio-o: alguém canta com tanta verdade como Chico Buarque de Hollanda? Esse homem não solfeja notas, ele canta verdades, denuncia erros, desmascara mamulengos. E não teria outra arma como a música para realizar essa missão, que lhe é tão própria. Canta as presepadas do morro, que são iguais aos devaneios de Alan. Fala à alma e escuta as canções que a vida se dá conta de compor. E por isso encanta tanto. Porque não cria mundos, apenas reinventa os seus. Extrai rimas da poesia que a vida é. É feliz quem se entrega a Chico... E sofre quem o ignora. Com Bethânia, Marisa, Adriana, Elis, Oswaldo, Rita, Luiz Gonzaga, Adoniran Barbosa... Com todos esses soldados da beleza, nós, humanos, podemos enfrentar sem afrontar as amarguras que a vida parece ter. No fundo, não são amarguras. São apenas semitons ou notas que ainda não alcançamos com a exatidão que a alma deve empreender.

Parece não sentir tais êxtases? Desconhece essas belezas claras e essas verdades que nos desnudam? Veja, então, o que está ouvindo... Conheça e reconheça o concerto que o seu espírito tem adormecido. Dê-se à graça das apoteoses. Deixe Marisa cantar e cante aos Montes para ela também. Quando nos dermos conta da bela canção que a nossa vida compõe, veremos que nenhum preconceito musical vale a pena quando o que está em questão é a harmonia de ser gente.


quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O parto de Sofia



Há muito, muito tempo atrás, em uma região longínqua e uma casa simples, morava Sofia, uma jovem senhora antitética, cheia de dúvidas e, digamos, feliz. Conhecida por suas perguntas desafiadoras, a sábia convivia de forma a perturbar a harmonia social de seu grupo. Os cidadãos de seu país temiam qualquer uma de suas indagações, que pareciam ferir-lhe e maltratar a estabilidade prometida por seus governantes. Acontece que, em um belo dia, resolveram calar Sofia. Suas perguntas ficaram mudas e ela não foi mais uma criatura feliz. Criatura? Talvez... Mas a jovem senhora não admitiria os ditames de ser criada por alguém. Era livre demais para isso. Com sua voz presa, foi se definhando aos poucos, engolindo toda a angústia de sua existência e esquecendo o que de fato era. Atentaram contra sua vida... e a mataram.

Quis iniciar esta crônica com a drástica narrativa de Sofia para lembrarmos um pouco da nossa condição de seres ditos racionais. Vivemos o tempo todo sob os olhares ameaçadores daqueles que deixamos governar nossa existência. O irmão chato, o vizinho sortudo, o padeiro nem sempre de bom humor, o chefe petulante, dentre tantos outros personagens da história que criamos e que ousamos chamar de Vida. É interessante notar que, após tantos olhares nos definindo, acabamos por esquecer aquilo que somos. E terminamos em um palco frajuto, com luzes falhas e platéia insatisfeita. Não temos a ousadia de Sofia, não conseguimos olhar para dentro de nós mesmos (ou, inclusive, para fora) e existir da maneira que somos.

O filósofo Descartes, na brilhante máxima de seu pensamento, atreve-se a dizer: “Penso, logo existo.” O ato de pensar passa a ser condição para existir. Por essa razão, vemos a massa que não consegue construir sua história porque não se admite sujeito dela, não a pensa, escusa-se da reflexão. São apenas participantes, fantoches de um circo desgovernado e sem sentido. A cada dia, percebemos que nossa vontade já não diz quem somos. Por quê? Porque não ousamos pensar. Aceitamos os fatos (e contra eles, não há remédio), comemoramos datas programadas e vivemos a grande apoteose do nada. Pensar exige coragem. Não se trata apenas de conhecer fórmulas e destrinchar conceitos nem sempre tão utilizáveis. Pensar exige que saiamos do nosso comodismo de ser gente. Sócrates, a grande referência para a Filosofia, aconselhou-nos uma das tarefas mais difíceis para os covardes: “Conhece-te a ti mesmo”. Temos medo... Fugimos desse conselho, porque, como aconteceu com Sócrates e Sofia, nosso futuro pode ser muito breve. Mas de que adianta ter uma existência sem fundamento? Assistimos, todo santo e profano dia, às mais horrendas atitudes humanas... Atitudes de homens que são como nós e que se deixaram seduzir pela vontade de não serem mais humanos. A existência às vezes cansa, sim. Mas não podemos tomar isso como desculpa para nossa preguiça e nosso medo de pensar. Filhos são jogados pelas janelas, pais são assassinados em troca de uma herança, crianças são executadas em rituais macabros em busca de poder, “despolíticos” debocham de nossa fome e de nossa cruel covardia... E tudo isso se dá como um grande espetáculo, onde a lágrima parece ser um prêmio para o cidadão. Na verdade, nem dá pra se falar em ser cidadão antes mesmo de ser gente, antes mesmo de existir... Ensinamos nossas crianças a cantarem “Uh, uh, como é bom ser lelé!” e achamos isso “bonitinho”, porque uma loirinha rica, maquiada e emplastificada se torna identidade para elas. A mãe perde seu espaço, pois tem medo de engravidar de Sofia.

Sofia vem do grego e corresponde a sabedoria. O método socrático nos ensina a maiêutica, que significa o parto das idéias no interior do homem. Na história do Brasil, por muito tempo, principalmente com a ditadura militar, fomos proibidos de pensar. O ensino de Filosofia era vetado nas escolas, porque, por mais subordinados que os homens parecessem, poderiam ficar grávidos. E isso ameaçaria, como ameaça, toda a estrutura de poder vigente. Continuamos em um Brasil que parece ser a morada de todos, mas que é país de alguns. Quando se engravida aqui, a sociedade estremece... Mas permanece muda. Para que ler Lispector quando se tem Harry Potter? Desculpem-me, mas isso me causa uma angústia insistente e teimosa. Nada contra o bruxinho de óculos grandes, até o considero simpático... Eu só não entendo as razões pelas quais nos deixamos abortar. Enterramos nossa existência e nos damos nomes incoerentemente fictícios... É preciso que um dos bonecos corte o fio e que Sofia seja nossa companheira para ser gente e brincar, ao invés de brincar de ser gente!
Alan Dantas
Crônica publicada em "A Tribuna do Vale" (10.05.2008)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Meu primeiro dia do Mestre sem Aprendizes




Não posso negar... A experiência da sala de aula me fez gente. Descobri-me mestre quando era apenas um aprendiz desengonçado.


Ainda sinto muita falta do cheiro dos meus alunos... Cúmplices das reticências... Inimigos das normas que, carinhosamente e com a mais pura verdade, tentei inserir em suas vidas... Belos e exemplares conselheiros que, dotados de maturidade ou não, fizeram de meus poucos anos a mais um impulso para que mais dias viessem.


Hoje, sinto-me só.


Não sei o que meus aprendizes sentem, cantam, conversam... Nem sei se continuaram com as mesmas travessuras de outrora... Não sei se ainda me amam e se tornariam a chorar a minha despedida.


Mas a ausência do giz em minhas mãos e dos diários de notas em minha bolsa registram apenas o ensaio do quanto me dói estar longe de cada um dos meus pássaros...


[...]


Eles teceram o HOMEM DAS RETICÊNCIAS e agora nem mais elas me respondem... Porque o vazio tem feito de minha existência um ponto final.


[...]


Sinto falta de vocês.


Sinto saudade das nossas desavenças...


Estou só, mesmo rodeado de tanta gente. E se essa gente ou esse povo fosse vocês, eu não precisaria mais de chamadas no início do dia, porque eu teria a certeza de que nunca nenhum de vocês iria faltar.


Um feliz dia do professor para mim... Mas, principalmente, para aqueles que me fizeram Mestre.


Saudade sem fim...


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Dá-me um conselho...





Era uma tarde de outubro, meus nervos não suportavam os olhares críticos que me eram dirigidos naquela sala. A palidez das paredes, o som do condicionador de ar, aquele abrir e fechar de portas que me tornavam mais ansioso ainda... Eu estava em uma clínica de psicologia. Não sabia o que tinha me levado ali. Meu corpo sentiu necessidade disso. Talvez lá eu pudesse encontrar alguma resposta, alguma solução.

Aos 23 anos de idade, eu não tinha emprego, não tinha namorada, nem muito menos estudava. Acreditei muito no que as pessoas diziam a respeito de vocação e do que seria correto. Segui conselhos e acabei precisando de mais. Hoje tenho plena certeza de que conselhos viciam, assim como o álcool, o fumo, as drogas. Você sempre pensa que vai ser a última vez... Mas nunca é! Eles vão tomando parte de você, de seus sentidos e você não consegue mais tomar suas próprias decisões. Precisa sempre ouvir alguém... Talvez nem precise, mas sente uma necessidade angustiante de fazer isso. É como que se aqueles que lhe aconselham salvassem você de um poço interminável de problemas... E depois te tantos conselhos, eles se voltam pra você e lhe tacham de indeciso, inconstante e de tantos outros adjetivos nada desejáveis a uma pessoa que busca tão somente a felicidade...

“O que você vai ser quando crescer?” Não houve outra pergunta que me perturbasse tanto como essa, em toda a minha vida. O pior é que esse questionamento inconveniente começa a conviver com suas emoções a partir da infância, quando a tia da escola nos olha sorrindo, apertando nosso bracinho e esperando uma resposta certa: “Vou ser médico... engenheiro... arquiteto... veterinário... advogado... presidente da república...” A resposta sempre será correta quando a profissão escolhida (por livre e espontânea pressão) projete a criança financeiramente. “Isso, meu filho... Parabéns! Você tirou nota dez!”. O garoto, então, deixa de ser importunado... Afinal, ele tem quatro anos, mas já decidiu o que vai ser... É... Comigo foi diferente. Quando, na sala de aula, a professora me perguntou o que eu iria ser quando crescer, eu respondi com a inocência de uma criança: “Não sei, tia...” Nossa, como eu me arrependo de ter sido inocente e sincero nesse dia. Talvez, se dissesse que queria ser médico, as pessoas ao meu redor deixassem minha cabecinha em paz... Mas não! O ser humano conserva o enorme defeito de se sentir responsável pelas decisões do outro.


A insatisfação tomou conta do meu mundo naquele exato momento, em que meus problemas já não eram somente meus. “Olha, gente, o Rafa não sabe qual profissão vai exercer... Vamos ajudá-lo?”. Como as pessoas podem ser tão ousadas e, ao mesmo tempo, tão atrevidas ao ponto de se acharem capazes de resolver os meus problemas? Os meus!!! Com certeza e precisão, ajudariam mais se perguntassem antes: “Você quer a minha ajuda?”. Assim, eu me sentiria livre e acolhido, resolvendo com calma o meu problema pré-estabelecido. Mas, ao pressionarem o meu coração e as minhas emoções no sentido de tomar uma decisão imediata e definitiva, o meu ser se sente invadido, minha liberdade se sente presa e acaba por não sobreviver aos ataques insaciáveis dos preocupados. ,


Noite de Cárcere



Ontem, tive uma noite estranha...Os sonhos me desesperaram e bati de frente com o móvel ocre que ganhei no Natal de 96.Fiz uma figa que quase me cortou os dedos, mas...O seu sonho me pegou antes.Fez dos meus olhos uma janela que, mesmo fechada, lacrada, proibida, venceu os algozes da alegria...Senti o peso do pesadelo deveras real.Cobri o lençol com o meu rosto e acordei embriagado, sufocado, violentado...Não quis dizer boa noite, com medo de que ela se repetisse com a brevidade de antes.