segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Dá-me um conselho...





Era uma tarde de outubro, meus nervos não suportavam os olhares críticos que me eram dirigidos naquela sala. A palidez das paredes, o som do condicionador de ar, aquele abrir e fechar de portas que me tornavam mais ansioso ainda... Eu estava em uma clínica de psicologia. Não sabia o que tinha me levado ali. Meu corpo sentiu necessidade disso. Talvez lá eu pudesse encontrar alguma resposta, alguma solução.

Aos 23 anos de idade, eu não tinha emprego, não tinha namorada, nem muito menos estudava. Acreditei muito no que as pessoas diziam a respeito de vocação e do que seria correto. Segui conselhos e acabei precisando de mais. Hoje tenho plena certeza de que conselhos viciam, assim como o álcool, o fumo, as drogas. Você sempre pensa que vai ser a última vez... Mas nunca é! Eles vão tomando parte de você, de seus sentidos e você não consegue mais tomar suas próprias decisões. Precisa sempre ouvir alguém... Talvez nem precise, mas sente uma necessidade angustiante de fazer isso. É como que se aqueles que lhe aconselham salvassem você de um poço interminável de problemas... E depois te tantos conselhos, eles se voltam pra você e lhe tacham de indeciso, inconstante e de tantos outros adjetivos nada desejáveis a uma pessoa que busca tão somente a felicidade...

“O que você vai ser quando crescer?” Não houve outra pergunta que me perturbasse tanto como essa, em toda a minha vida. O pior é que esse questionamento inconveniente começa a conviver com suas emoções a partir da infância, quando a tia da escola nos olha sorrindo, apertando nosso bracinho e esperando uma resposta certa: “Vou ser médico... engenheiro... arquiteto... veterinário... advogado... presidente da república...” A resposta sempre será correta quando a profissão escolhida (por livre e espontânea pressão) projete a criança financeiramente. “Isso, meu filho... Parabéns! Você tirou nota dez!”. O garoto, então, deixa de ser importunado... Afinal, ele tem quatro anos, mas já decidiu o que vai ser... É... Comigo foi diferente. Quando, na sala de aula, a professora me perguntou o que eu iria ser quando crescer, eu respondi com a inocência de uma criança: “Não sei, tia...” Nossa, como eu me arrependo de ter sido inocente e sincero nesse dia. Talvez, se dissesse que queria ser médico, as pessoas ao meu redor deixassem minha cabecinha em paz... Mas não! O ser humano conserva o enorme defeito de se sentir responsável pelas decisões do outro.


A insatisfação tomou conta do meu mundo naquele exato momento, em que meus problemas já não eram somente meus. “Olha, gente, o Rafa não sabe qual profissão vai exercer... Vamos ajudá-lo?”. Como as pessoas podem ser tão ousadas e, ao mesmo tempo, tão atrevidas ao ponto de se acharem capazes de resolver os meus problemas? Os meus!!! Com certeza e precisão, ajudariam mais se perguntassem antes: “Você quer a minha ajuda?”. Assim, eu me sentiria livre e acolhido, resolvendo com calma o meu problema pré-estabelecido. Mas, ao pressionarem o meu coração e as minhas emoções no sentido de tomar uma decisão imediata e definitiva, o meu ser se sente invadido, minha liberdade se sente presa e acaba por não sobreviver aos ataques insaciáveis dos preocupados. ,


4 comentários:

Nadja Dantas disse...

Um dos maiores defeitos do ser humano,é preocupar-se com o que os outros falam ou pensa dele mesmo,
e se doar para todos e não se doar para si.
é nao ter privacidade consigo mesmo,esperando alguma crítica de alguém...Aff!
é isso que nos faz sermos fracos,e cair em uma dolorosa e lenta depressão.
A partir do momento em que passamos a nos drogar com conselhos,instantaneamente ficamos dependentes deles,e para sair só com um tratamento muito rigoroso,mas esse tratamento tem que partir de voce,porque se nao percebestes,voce está mais uma vez procurando respostas,aonde nao deve,as respostas tem que sair de voce,de suas perguntas...
Temos que caminhar com nossas próprias pernas,sejam elas defeituosas ou nao,com isento de críticas,construtivaas ou "descontrutivas",não olhe para os lados,nem para traz,fique surdo e mudo também,seja voce mesmo,não caia em desespero,nao se coloque mais para baixo,levante a cabeça e diga"Nao preciso de ajuda,eu sei me virar sozinho",nao sou coitado,nao sou perfeito,sou apenas eu,isso é que me faz ser feliz!

Alan,eu estarei aqui,nao te oferecendo "drogas",mas te apoiando em tudo que precisares,nas suas escolhas,suas incertezas,suas quedas e suas vitórias!


=)


te amo tanto!

Fernanda Wanderley disse...

Muito interessante, amei Alan!

Saudades desse professor tão querido!

...etc e tal... disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sandro Plebeu disse...

Muito lol

ei omi, me fez lembrar Sartrin:
"o inferno são os outros" mesmo!!!

Mas... o que vc vai ser quando crescer Alanzin?

uahauah

>>>> Grande!