terça-feira, 21 de outubro de 2008

Marisa aos Montes


A música é, das artes, a que melhor me humaniza. Tenho toda uma vida com o teatro, a literatura e a poesia, mas nada se compara ao que notas em seu devido e nem sempre óbvio lugar conseguem fazer com minha pobre alma. É como alcançar uma luz, sentir-se iluminado, claro, límpido... Porque a música nos desmascara! E esse é o grande e o melhor risco que corremos quando nos aventuramos em seus deleites. Já viu como são felizes aqueles que nela vivem? Parece-me uma companhia perfeita, com seus efeitos e defeitos, com suas nuances e equilíbrios...
Nesta semana, a vida pôde me presentear com um show da linda Marisa... O que me parecia algo somente fora da rotina me surpreendeu com os resultados. Acredito piamente e tenho experimentado que a música provoca na alma certos êxtases, que nem o mais fino elemento químico pode imitar. Essas sensações são alcançadas quando, enquanto humanos, deixamos que as melodias físicas e planejadas coincidam com a harmonia do nosso cotidiano fácil ou não, com as diabruras e milagres da nossa essência... Marisa me fez isso! Arrancou de mim o meu humano, mas não o tomou para si... Deixou apenas que a sua voz denunciasse o que em mim ainda se corrompe. Desmascarou-me aquela agraciada! E fez-me chorar... No meio de um ginásio, na companhia de três amigos muito especiais e... com uma camisa roxa, o que me tornou mais ridículo ainda! Viva o ridículo! Viva a vergonha no dia em que me senti nu! E assim, a cor da roupa já não mais me incomodou. Estou, definitivamente, com a cota de êxtases musicais bem recheada. Dou conta de três anos sem precisar de mais uma dessas experiências, mas não quero me dar esse castigo. Nietzsche foi muito feliz quando disse que a vida sem música seria um erro... As palavras do louco, como foi e é lembrado pelos mais diversos “guardiões da razão”, soam ao nossos ouvidos como certezas que só são conhecidas quando provadas. Todas elas são assim. Aquele que diz viver sem música já morreu, se bem que as melodias não se interrompem com o fim de nossos suspiros. Elas eternizam nossa condição de ser.
Muitos de meus amigos me questionam o gosto que tenho pela voz do Chico. “Uma voz pouquinha e feia” é o que me dizem. “Tudo bem gostar dele em suas composições, mas... do seu cantar?” Tenho pedido a essas pessoas que cantem um pouco para mim. E que, por favor, parem na terceira nota. Realmente, não encontro na voz do Chico os esplendores e agrados de um Oswaldo Montenegro ou de um Andrea Boccelli. Mas desafio-o: alguém canta com tanta verdade como Chico Buarque de Hollanda? Esse homem não solfeja notas, ele canta verdades, denuncia erros, desmascara mamulengos. E não teria outra arma como a música para realizar essa missão, que lhe é tão própria. Canta as presepadas do morro, que são iguais aos devaneios de Alan. Fala à alma e escuta as canções que a vida se dá conta de compor. E por isso encanta tanto. Porque não cria mundos, apenas reinventa os seus. Extrai rimas da poesia que a vida é. É feliz quem se entrega a Chico... E sofre quem o ignora. Com Bethânia, Marisa, Adriana, Elis, Oswaldo, Rita, Luiz Gonzaga, Adoniran Barbosa... Com todos esses soldados da beleza, nós, humanos, podemos enfrentar sem afrontar as amarguras que a vida parece ter. No fundo, não são amarguras. São apenas semitons ou notas que ainda não alcançamos com a exatidão que a alma deve empreender.

Parece não sentir tais êxtases? Desconhece essas belezas claras e essas verdades que nos desnudam? Veja, então, o que está ouvindo... Conheça e reconheça o concerto que o seu espírito tem adormecido. Dê-se à graça das apoteoses. Deixe Marisa cantar e cante aos Montes para ela também. Quando nos dermos conta da bela canção que a nossa vida compõe, veremos que nenhum preconceito musical vale a pena quando o que está em questão é a harmonia de ser gente.


2 comentários:

Nadja Dantas disse...

Não vou mentir dizendo que nunca chorei ouvinda alguma música,por dor de cutuvelo,ou porque lembra-me alguma coisa boa...

é claro qque chorei e ainda choro!
Quem nunca chorou ouvindo uma música que atire a primeira pedra...

Mas poucos sabem dar valor a essencia dela,não enxergam o sentido das letras,nem na maioria das vezes ouve a voz do cantor(a),só querem saber da batida ou do ritmo,falo porque vejo muitos casos por ai,principalmente com gente da minha faixa etária.
ahh! que nem sempre gostam de Chico Buarque,nem da Marisa Monte...confesso que nao dava valor a isso também,mas o amor por alguém que sinto hoje,me libertou do mundo em que vivia,e o mundo em que eu vivia,era tao solitário,só ouvia apenas uma cantora,OBS:" a voz e as letras de suas músicas também são ótimas"meu mundo era vazio,preto e branco,derepente quando essa pessoa apareceu-me,consegui sorrir de verdade,sem precisar forçar,e foi "ELE" que me fez escutar os ruidos do mundo denovo!...
Infelizmente nao posso te-lo como desejo,mas posso senti-lo,posso imagina-lo,e isso tudo me faz chorar ouvindo músicas,...



"Eu só quero que você saiba
Que eu estou pensando em você
Agora e sempre mais
Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz

Eu só quero que você saiba
Que eu estou pensando em você
Agora e sempre mais
Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz"

*Marisa Monte-A sua*

Alenuska Almeida disse...

Amigo...
Também não saberia viver sem a música. Amo demais...

E falar em música,qndo o senhor vai cantar? Estou com saudades e também de sair por ai com vc pra tomar umas e botar os papos em dia,Bjo no seu coração.